sexta-feira, 30 de outubro de 2009

GUERRA FRIA PARA O EXAME FINAL ANUAL

Como foi solicitado por nossos alunos noturnos, estamos disponibilizando uma síntese para as aulas de Guerra Fria que se farão acompanhar de algumas questões para estudo:

NOVO TEXTO:

Guerra Fria
Ademar, Ricardo e Flávio

Terminada a II Guerra Mundial, em 1945, a situação política mundial iria conhecer novos rumos, em virtude do afasta-mento dos países europeus da condição de grandes potências, e, especialmente, do surgimento de duas "superpotências": os Estados Unidos e a União Sovié-tica. Esta bipolarização iria tra-zer profundos desdobramentos, entre os quais se destaca a Guerra Fria.
Costuma-se conceituar Guerra Fria como um conflito "diferen-te" dos con­flitos tradicionais, uma vez que os dois principais contendores não se enfrentam diretamente, do ponto de vista militar. Esse novo confronto, quando chega à situação de envolvimento bélico, ocorre sempre em outros países, prin-cipalmente os do Terceiro Mun-do. Todos sabem que um confli-to aberto envolvendo as duas super­potências equivale hoje a colocar um ponto final na Histó-ria, pois não haveria a menor possibilidade de alguém sobre-viver a uma guerra nuclear.
Quando se analisam as origens da Guerra Fria, percebe-se com muita clareza o envolvimento inglês e norte-americano na construção de um discurso que pro­curava mostrar os perigos do expansionismo soviético. Apontava-se para a Europa Ori-ental como o exemplo mais pal-pável desse expansionismo, uma vez que os soviéticos havi-am ocupado aquela região du-rante a Guerra Mundial e se recusavam a abandoná-la. No texto de aprofundamento se discutirá um pouco mais estes "mitos" da Guerra Fria.
-j Há uma certa discordância entre os autores no que se refere à periodização do conflito. Para muitos, a Guerra Fria já é um assunto do passado, uma vez que teria se desenrolado no final dos anos 40 e nos anos 50. Já no final da década de 50,
justificam eles, as relações EU-A/URSS passam a ser coman-dadas pela ideologia da "Coe-xistência Pacífica" e, posterior-mente, da "Détente". E, nos dias de hoje, já não se poderia falar em bipolarização, uma vez que novas forças emergiram e o quadro das relações internacionais modificou-se substancialmente. Para outros autores, a Guerra Fria perpassa todo esse período, do final da segunda Guerra Mundial aos dias de hoje, uma vez que consideram o período da "Coexistência Pacífica" e da "Détente" como simples fases do conflito, sendo que nos anos 80 ter-se-ia a fase da "Nova Guerra Fria".

Os Anos 40/50: a Guerra Fria "Clássica"

a) No dia 5 de março de 1946, o ex-primeiro-ministro inglês Churchil, em visita aos Estados Unidos, fez um discurso na ci-dade de Fulton, tendo ao seu lado o presidente Truman, dos Estados Unidos. Nesse discurso, conclamou os norte-americanos a fornecerem ajuda econômica e militar à Grécia e à Turquia, cujos governos estavam às vol-tas com uma luta interna contra o Partido Comunista. Alertava ele para o perigo que represen-tava para o "mundo livre"essa expansão do comunismo.
b) Em resposta a esse discurso e em atenção aos seus próprios interesses, o presidente Tru-mam elaborou, em 1947, uma Mensagem ao Congresso que ficou conhecida como Doutrina Truman. Nesta Mensagem, Truman solicitava aos deputados a concessão de ajuda eco-nômica e militar aos governos grego e turco. Havia se sensibi-lizado pelo apelo de Churchil. A Doutrina Truman, na realidade, estava oficialmente declarando a Guerra Fria.
c) A partir do momento em que a Guerra Fria passava a existir, dentro dos planos norte-americanos de contenção do expansionismo soviético, seria extrema­mente importante cui-dar da reconstrução da Europa. Isto será proposto pelo general George Marshall e aceito pelo governo dos Estados Unidos. Milhões de dólares serão despe-jados na Europa Ocidental, com o objetivo de permitir uma re-cuperação rápida, para fazer frente aos soviéticos. É impor-tante lembrar que tal ajuda foi oferecida também aos países da Europa Oriental, sendo que Sta-lin proibiu-os de aceitarem. Somente a lugoslávia desobe-deceu às instruções de Stalin, gerando o primeiro rompimento dentro do bloco socialista. O presidente Tito, da lugoslávia, aceitou a ajuda norte-americana, mantendo-se, no entanto, socialista.
d) Para conter os soviéticos não bastava a ajuda econômica. Era necessário, ainda, ter um braço armado. E isto aconteceu com a criação da Organização do Tra-tado do Atlântico Norte (OTAN), em abril de 1949. A OTAN é uma organização militar, reu-nindo os países da Europa Oci-dental, os EUA e o Canadá, com objetivos "defensivos".
e) Os soviéticos reagiram a to-das essas tentativas de conten-ção. Os países da Europa Orien-tal foram "sovietizados", em resposta à tentativa dos Estados Unidos de fornecer ajuda econômica a eles. Nos primeiros tempos, após a Segunda Guer-ra, os governos desses países ainda reuniam elementos dos antigos partidos burgueses e camponeses. Os Partidos Co-munistas não eram, geralmente, muito poderosos. No entanto, à medida em que as pressões norte-americanas começaram a se tornar mais efetivas, todos os partidos foram dissolvidos, instituindo-se regimes de partido único, coletivização forçada das terras. Reorganizou-se também o Comitê de Informação dos Partidos Comunistas e Operários (KOMINFORM) e criou-se o Pacto de Varsóvia, aliança militar dos países da Europa Oriental e da URSS.
f) Uma das regiões mais explo-sivas nesse primeiro momento de tensão entre o bloco capita-lista e o socialista foi a Alema-nha. Terminada a Segunda Guerra, a Alemanha foi dividida em quatro setores, ocupados pêlos soviéticos, norte-americanos, ingleses e france-ses. A cidade de Berlim, antiga capital alemã, ficou também dividida em quatro setores, posteriormente transformados em dois. Em 1948, quando se discutiam as questões relativas à criação de uma nova moeda para a Alemanha, o problema de Berlim tornou-se agudo e os soviéticos iniciaram o bloqueio da cidade, tentando impedir o abastecimento do setor oeste. No entanto, uma ponte aérea organizada pêlos americanos e ingleses conseguiu abastecer a cidade, determinando, algum tempo depois, a retirada do bloqueio. Logo em seguida, os soviéticos criaram a República Democrática Alemã (RDA), en-quanto os setores americano, inglês e francês foram trans-formados na República Federal da Alemanha, capitalista.
g) Dentro dos EUA, o clima de histeria anti-comunista teve seu ponto máximo com a campanha desenvolvida pelo senador Eu-gene McCarthy, para extirpar os elementos comunistas da socie-dade norte-americana. Incontá-veis prisões e perseguições fo-ram efetuadas, inclusive nos meios artísticos (Charles Cha-pim, o Carlitos, foi uma das mais famosas vítimas). A onda de histeria era alimentada com novos acontecimentos: a URSS explodia suas primeiras armas nucleares, a China fazia a sua revolução, aderindo também ao socialismo. A verdadeira para-nóia que se instalou nos EUA só teve seu fim quando o senador McCarthy passou a acusar ele-mentos das forças armadas como comunistas. Em 1954 ele foi condenado pelo Congresso por suas atividades, caindo em descrédito.
h) Um dos momentos mais ten-sos dessa primeira fase foi a Guerra da Coréia (1950-53). Após a II Guerra Mundial, a Coréia fora dividida em duas áreas de influência: o Norte, sob controle comunista e apoia-do pela URSS e o Sul, apoiado pêlos EUA. De acordo com deci-são da ONU, deveria haver a reunificação do país após elei-ções gerais. No entanto, confli-tos fronteiriços a partir de 1950 levaram a uma guerra entre as duas partes, com envolvimento decisivo dós Estados Unidos apoiando a Coréia do Sul, en-quanto os soviéticos e chineses deram apoio ao Norte. Os con-flitos se prolongaram até 1953, quando foi firmado um armistí-cio, confirman­do a divisão da Coréia, situação que ainda hoje permanece.
i) O fim dessa primeira fase é assinalado com a crise dos mís-seis soviéticos em Cuba. A re-volução Cubana ocorrera em 1959, passando a ilha para o bloco socialista. Aviões de espi-onagem dos Estados Unidos descobriram que estavam sendo instaladas rampas de lança-mento de mísseis, levando o presidente Kennedy a ordenar o bloqueio de Cuba pela marinha norte-americana, e a imediata retirada dos mísseis, sob pena de invasão. Os soviéticos opta-ram por atender à imposição, mas garantindo, por outro lado, que os americanos não tentari-am mais a derrubada de Fidel Castro. Retirados os mísseis, o bloqueio foi desfeito. Mas essa crise mostrou que a política de enfrentamento entre as duas superpotências poderia levar a desdobramentos inimagináveis. Já de algum tempo a liderança soviética vinha acenando com a idéia da "coexistência pacífica" e alguma coisa será feita neste sentido: instala-se o "telefone vermelho" ligando a Casa Bran-ca ao Kremlin; pensa-se em cooperação tecnológico-espacial.

Os Anos 60/70: Coexistência Pacífica e Détente.

A idéia de Coexistência Pacífica foi expressa por Nikita Krus-chev, que sucedeu a Stalin. Partia do pressuposto que a luta entre os dois sistemas deveria ser travada prioritariamente no campo econômico e não no campo bélico. Nos anos 60 essa tese foi encampada pêlos norte-americanos, passando a confi-gurar as novas relações entre os dois países. Para alguns au-tores, isso significa que a Guer-ra Fria terminou; para outros, trata-se apenas de mais uma etapa do conflito. Estes esforços de aproximação e de atitudes não-beligerantes, no entanto, serviram para encobrir um dos maiores massacres do século XX: a guerra do Vietnã, que se estendeu também ao Laos e ao Camboja.
Nos anos 70, já com novos diri-gentes (Brejhnev na URSS e Nixon, nos EUA), as relações entre as duas superpotências entraram num clima de Détente (distensão). O mundo se modi-ficara de forma extremamente significativa desde o início da Guerra Fria. Havia um dado importante: no conflito entre a China e a URSS os americanos procuraram aproximar-se dos chineses. Para isso era necessá-rio acabar com a Guerra do Vi-etnã, o que foi feito em 1972. A aproximação entre americanos e chineses tinha objetivos bem claros a nível das relações in-ternacionais, uma vez que obri-gava a URSS a encarar a China como potencial inimigo, talvez mais perigoso que os EUA.
Com a ascensão do governo Cárter, nos EUA, esta política continuou a ser utilizada, mas, no final dos anos 70, uma série de crises localizadas (principal-mente com a ascensão do Aia-tolá Khomeini, no Ira, em subs-tituição ao Xá Reza Pahlevi, tradicional aliado dos america-nos) praticamente "congelou" a Détente.
É importante realçar que o en-frentamento entre as duas su-perpotências não cessara, uma vez que podia ser facilmente detectado nas lutas de inde-pendência de Angola e Moçam-bique, no apoio norte-americano a Israel, por exemplo. Mas o "congelamento" da Détente tornou-se muito claro quando da invasão do Afeganistão pelas tropas soviéticas, em 1979. Em represália a esta invasão, fartamente denun­ciada pela imprensa ocidental, os norte-americanos resolveram boicotar as Olim­píadas de 1980, que se realizaram em Moscou, numa nítida atitude de protesto. Na esteira do descontentamento que tomou conta da sociedade norte-americana com as in-decisões do governo Cárter (principalmente no que se refe-re à prisão de
norte-americanos pêlos irania-nos), uma onda conservadora levou à vitória de Ronald Reagan nas eleições presidenciais. Com ele, um novo discurso truculento e agressivo em relação à URSS, passou a ser desenvolvido, gerando o que alguns autores denominam de "nova guerra fria".

Os Anos 80: a "Nova" Guerra Fria

O novo presidente dos EUA ha-via se destacado na época do Macarthismo como um elemento que, sendo ator de cinema, contribuiu para denunciar ao FBI uma série de colegas de profissão. Alçado agora à presi-dência da maior potência militar e econômica do mundo, Reagan desferiu violentos discursos contra os "satânicos" comunis-tas e mostrou-se disposto a enfrentá-los novamente. Isto pôde ser percebido facilmente na ajuda econômica e militar aos rebeldes afegãos e , princi-palmente, na América Central, com a verdadeira cruzada con-tra a Nicarágua e os sandinistas, que haviam tirado o ditador Somoza do poder (diga-se, de passagem, que Somoza sempre fora apoiado pêlos norte-americanos). Um verdadeiro cerco à Nicarágua foi feito, in-clusive com o apoio financeiro aos "contras", isto é, àqueles elementos que, com base nos países vizinhos à Nicarágua, tentam derrubar o governo sandinista. A invasão da ilha de Granada teve efeito evidente de demonstração do poderio norte-americano, servindo como um aviso para os nicaragüenses.
No entanto, a surpresa maior ficou por conta da ascensão de Mikhail Gorbachev na URSS e sua política de Glasnost, associ-ada à Perestroika (esses assun-tos serão analisados mais à frente). O fato é que, devido às novas propostas do dirigente soviético, interessado em redu-zir os orçamentos militares para atender aos imperativos do de-senvolvimento econômico, os americanos foram pegos de surpresa com as propostas de destruição de mísseis e desar-mamento estabelecidas por Gorbachev.
Os novos tratados assinados em 1987 reduziram muito pouco os arsenais das duas potências, mas foram um primeiro passo significativo no sentido de per-mitir um entendimento maior.
Na sequência do desenvolvi-mento das reformas implemen-tadas por Gor­bachev, como se verá no capítulo 3, rufram os governos da Europa Oriental, o Muro de Berlim foi derrubado, as duas Alemanhas se unifica-ram: em suma, o quadro ideo-lógico existente na Europa Ori-ental e que justificava a exis-tência da Guerra Fria, deixou de existir.
Podemos, portanto, falar que a Guerra Fria terminou. A década de 90 se iniciou com modifica-ções sensíveis, que fizeram com que o conflito Leste X Oeste começasse a se tomar algo do passado.
Alguns problemas permanecem ainda sem solução, como por exemplo, o que fazer da OTAN. Ela não é mais necessária, visto que o Pacto de Varsóvia desin-tegrou-se. A permanência de tropas americanas na Alemanha também tornou-se desnecessária. Mas, sobretudo, o que tem preocupado sobremaneira é o destino do arsenal atômico da ex-URSS.
Com a desintegração da União Soviética, ocorre uma disputa entre as novas repúblicas para saber quem ficará de posse desse arsenal. Enquanto isso, correm notícias de que artefatos nucleares têm sido vendidos a diversos países, o que pode aumentar o risco de conflitos, particularmente na região do Oriente Médio, que já é um local bastante conturbado.

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