quarta-feira, 23 de setembro de 2009

GUERRA FRIA: TÓPICOS PARA PROVA DO 3o

GUERRA FRIA
in Ademar, Flávio & Ricardo


Terminada a II Guerra Mundial, em 1945, a situação política mundial iria conhecer novos rumos, em virtude do afastamento dos países europeus da condição de grandes potências, e, especialmente, do surgimento de duas "superpotências": os Estados Unidos e a União Soviética. Esta bipolarização iria trazer profundos desdobramentos, entre os quais se destaca a Guerra Fria.Costuma-se conceituar Guerra Fria como um conflito "diferente" dos conflitos tradicionais, uma vez que os dois principais contendores não se enfrentam diretamente, do ponto de vista militar. Esse novo confronto, quando chega à situação de envolvimento bélico, ocorre sempre em outros países, principalmente os do Terceiro Mundo. Todos sabem que um conflito aberto envolvendo as duas super­potências equivale hoje a colocar um ponto final na História, pois não haveria a menor possibilidade de alguém sobreviver a uma guerra nuclear.Quando se analisam as origens da Guerra Fria, percebe-se com muita clareza o envolvimento inglês e norte-americano na construção de um discurso que procurava mostrar os perigos do expansionismo soviético. Apontava-se para a Europa Oriental como o exemplo mais palpável desse expansionismo, uma vez que os soviéticos haviam ocupado aquela região durante a Guerra Mundial e se recusavam a abandoná-la. No texto de aprofundamento se discutirá um pouco mais estes "mitos" da Guerra Fria.Há uma certa discordância entre os autores no que se refere à periodização do conflito. Para muitos, a Guerra Fria já é um assunto do passado, uma vez que teria se desenrolado no final dos anos 40 e nos anos 50. Já no final da década de 50, justificam eles, as relações EUA/URSS passam a ser comandadas pela ideologia da "Coexistência Pacífica" e, posteriormente, da "Détente". E, nos dias de hoje, já não se poderia falar em bipolarização, uma vez que novas forças emergiram e o quadro das relações internacionais modificou-se substancialmente. Para outros autores, a Guerra Fria perpassa todo esse período, do final da segunda Guerra Mundial aos dias de hoje, uma vez que consideram o período da "Coexistência Pacífica" e da "Détente" como simples fases do conflito, sendo que nos anos 80 ter-se-ia a fase da "Nova Guerra Fria".

Os Anos 40/50: a Guerra Fria "Clássica"

a) No dia 5 de março de 1946, o ex-primeiro-ministro inglês Churchil, em visita aos Estados Unidos, fez um discurso na cidade de Fulton, tendo ao seu lado o presidente Truman, dos Estados Unidos. Nesse discurso, conclamou os norte-americanos a fornecerem ajuda económica e militar à Grécia e à Turquia, cujos governos estavam às voltas com uma luta interna contra o Partido Comunista. Alertava ele para o perigo que representava para o "mundo livre"essa expansão do comunismo.
b) Em resposta a esse discurso e em atenção aos seus próprios interesses, o presidente Trumam elaborou, em 1947, uma Mensagem ao Congresso que ficou conhecida como Doutrina Truman. Nesta Mensagem, Truman solicitava aos de­putados a concessão de ajuda económica e militar aos governos grego e turco. Havia se sensibilizado pelo apelo de Churchül. A Doutrina Truman, na realidade, estava oficialmente declarando a Guerra Fria.
c) A partir do momento em que a Guerra Fria passava a existir, dentro dos planos norte-americanos de contenção do expansionismo soviético, seria extrema­mente importante cuidar da reconstrução da Europa. Isto será proposto pelo general George Marshall e aceito pelo governo dos Estados Unidos. Milhões de dólares serão despejados na Europa Ocidental, com o objetivo de permitir uma recuperação rápida, para fazer frente aos soviéticos. É importante lembrar que tal ajuda foi oferecida também aos países da Europa Oriental, sendo que Stalin proibiu-os de aceitarem. Somente a lugoslávia desobedeceu às instruções de Stalin, gerando o primeiro rompimento dentro do bloco socialista. O presidente Tito, da lugoslávia, aceitou a ajuda norte-americana, mantendo-se, no entanto, socialista.
d) Para conter os soviéticos não bastava a ajuda económica. Era necessário, ainda, ter um braço armado. E isto aconteceu com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em abril de 1949. A OTAN é uma organização militar, reunindo os países da Europa Ocidental, os EUA e o Canadá, com objetivos "defensivos".
e) Os soviéticos reagiram a todas essas tentativas de contenção. Os países da Europa Oriental foram "sovietizados", em resposta à tentativa dos Estados Unidos de fornecer ajuda económica a eles. Nos primeiros tempos, após a Segunda Guerra, os governos desses países ainda reuniam elementos dos antigos partidos burgueses e camponeses. Os Partidos Comunistas não eram, geralmente, muito poderosos. No entanto, à medida em que as pressões norte-americanas começaram a se tornar mais efetivas, todos os partidos foram dissolvidos, instituindo-se regimes de partido único, coletivização forçada das terras. Reorganizou-se também o Comité de Informação dos Partidos Comunistas e Operários (KOMINFORM) e criou-se o Pacto de Varsóvia, aliança militar dos países da Europa Oriental e da URSS.
f) Uma das regiões mais explosivas nesse primeiro momento de tensão entre o bloco capitalista e o socialista foi a Alemanha. Terminada a Segunda Guerra, a Alemanha foi dividida em quatro setores, ocupados pêlos soviéticos, norte-americanos, ingleses e franceses. A cidade de Berlim, antiga capital alemã, ficou também dividida em quatro setores, posteriormente transformados em dois. Em 1948, quando se discutiam as questões relativas à criação de uma nova moeda para a Alemanha, o problema de Berlim tornou-se agudo e os soviéticos iniciaram o bloqueio da cidade, tentando impedir o abastecimento do setor oeste. No entanto, uma ponte aérea organizada pêlos americanos e ingleses conseguiu abastecer a cidade, determinando, algum tempo depois, a retirada do bloqueio. Logo em seguida, os soviéticos criaram a República Democrática Alemã (RDA), enquanto os setores americano, inglês e francês foram transformados na República Federal da Alemanha, capitalista.
g) Dentro dos EUA, o clima de histeria anti-comunista teve seu ponto máximo com a campanha desenvolvida pelo senador Eugene McCarthy, para extirpar os elementos comunistas da sociedade norte-americana. Incontáveis prisões e perseguições foram efetuadas, inclusive nos meios artísticos (Charles Chapim, o Carlitos, foi uma das mais famosas vítimas). A onda de histeria era alimentada com novos acontecimentos: a URSS explodia suas primeiras armas nucleares, a China fazia a sua revolução, aderindo também ao socialismo. A verdadeira paranóia que se instalou nos EUA só teve seu fim quando o senador McCarthy passou a acusar elementos das forças armadas como comunistas. Em 1954 ele foi condenado pelo Congresso por suas atividades, caindo em descrédito.
h) Um dos momentos mais tensos dessa primeira fase foi a Guerra da Coreia (1950-53). Após a II Guerra Mundial, a Coreia fora dividida em duas áreas de influência: o Norte, sob controle comunista e apoiado pela URSS e o Sul, apoiado pêlos EUA. De acordo com decisão da ONU, deveria haver a reunificação do país após eleições gerais. No entanto, conflitos fronteiriços a partir de 1950 levaram a uma guerra entre as duas partes, com envolvimento decisivo dós Estados Unidos apoiando a Coreia do Sul, enquanto os soviéticos e chineses deram apoio ao Norte. Os conflitos se prolongaram até 1953, quando foi firmado um armistício, confirman­do a divisão da Coreia, situação que ainda hoje permanece.
i) O fim dessa primeira fase é assinalado com a crise dos mísseis soviéticos em Cuba. A revolução Cubana ocorrera em 1959, passando a ilha para o bloco socialista. Aviões de espionagem dos Estados Unidos descobriram que estavam sendo instaladas rampas de lançamento de mísseis, levando o presidente Kennedy a ordenar o bloqueio de Cuba pela marinha norte-americana, e a imediata retirada dos mísseis, sob pena de invasão. Os soviéticos optaram por atender à imposição, mas garantindo, por outro lado, que os americanos não tentariam mais a derrubada de Fidel Castro. Retirados os mísseis, o bloqueio foi desfeito. Mas essa crise mostrou que a política de enfrentamento entre as duas superpotências poderia levar a desdobramentos inimagináveis. Já de algum tempo a liderança soviética vinha acenando com a ideia da "coexistência pacífica" e alguma coisa será feita neste sentido: instala-se o "telefone vermelho" ligando a Casa Branca ao Kremlin; pensa-se em cooperação tecnológico-espacial. É o fim de uma etapa.

Os Anos 60/70: Coexistência Pacífica e Détente.

A ideia de Coexistência Pacífica foi expressa por Nikita Kruschev, que sucedeu a Stalin. Partia do pressuposto que a luta entre os dois sistemas deveria ser travada prioritariamente no campo econômico e não no campo bélico. Nos anos 60 essa tese foi encampada pêlos norte-americanos, passando a configurar as novas relações entre os dois países. Para alguns autores, isso significa que a Guerra Fria terminou; para outros, trata-se apenas de mais uma etapa do conflito. Estes esforços de aproximação e de atitudes não-beligerantes, no entanto, serviram para encobrir um dos maiores massacres do século XX: a guerra do Vietnã, que se estendeu também ao Laos e ao Camboja.Nos anos 70, já com novos dirigentes (Brejhnev na URSS e Nixon, nos EUA), as relações entre as duas superpotências entraram num clima de Détente (distensão). O mundo se modificara de forma extremamente significativa desde o início da Guerra Fria. Havia um dado importante: no conflito entre a China e a URSS os americanos procuraram aproximar-se dos chineses. Para isso era necessário acabar com a Guerra do Vietnã, o que foi feito em 1972. A aproximação entre americanos e chineses tinha objetivos bem claros a nível das relações internacionais, uma vez que obrigava a URSS a encarar a China como potencial inimigo, talvez mais perigoso que os EUA.Com a ascensão do governo Cárter, nos EUA, esta política continuou a ser utilizada, mas, no final dos anos 70, uma série de crises localizadas (principalmente com a ascensão do Aiatolá Khomeini, no Ira, em substituição ao Xá Reza Pahlevi, tradicional aliado dos americanos) praticamente "congelou" a Détente.É importante realçar que o enfrentamento entre as duas superpotências não cessara, uma vez que podia ser facilmente detectado nas lutas de independência de Angola e Moçambique, no apoio norte-americano a Israel, por exemplo. Mas o "congelamento" da Détente tornou-se muito claro quando da invasão do Afeganistão pelas tropas soviéticas, em 1979. Em represália a esta invasão, fartamente denunciada pela imprensa ocidental, os norte-americanos resolveram boicotar as Olimpíadas de 1980, que se realizaram em Moscou, numa nítida atitude de protesto. Na esteira do descontentamento que tomou conta da sociedade norte-americana com as indecisões do governo Cárter (principalmente no que se refere à prisão de norte-americanos pêlos iranianos), uma onda conservadora levou à vitória de Ronald Reagan nas eleições presidenciais. Com ele, um novo discurso truculento e agressivo em relação à URSS, passou a ser desenvolvido, gerando o que alguns autores denominam de "nova guerra fria".

Os Anos 80: a "Nova" Guerra Fria.

O novo presidente dos EUA havia se destacado na época do Macarthismo como um elemento que, sendo ator de cinema, contribuiu para denunciar ao FBI uma série de colegas de profissão. Alçado agora à presidência da maior potência militar e económica do mundo, Reagan desferiu violentos discursos contra os "satânicos" comunistas e mostrou-se disposto a enfrentá-los novamente. Isto pôde ser percebido facilmente na ajuda económica e militar aos rebeldes afegãos e , principalmente, na América Central, com a verdadeira cruzada contra a Nicarágua e os sandinistas, que haviam tirado o ditador Somoza do poder (diga-se, de passagem, que Somoza sempre fora apoiado pêlos norte-americanos). Um verdadeiro cerco à Nicarágua foi feito, inclusive com o apoio financeiro aos "contras", isto é, àqueles elementos que, com base nos países vizinhos à Nicarágua, tentam derrubar o governo sandinista. A invasão da ilha de Granada teve efeito evidente de demonstração do poderio norte-americano, servindo como um aviso para os nicaragüenses.No entanto, a surpresa maior ficou por conta da ascensão de Mikhail Gorbachev na URSS e sua política de Glasnost, associada à Perestroika. O fato é que, devido às novas propostas do dirigente soviético, interessado em reduzir os orçamentos militares para atender aos imperativos do desenvolvimento económico, os americanos foram pegos de surpresa com as propostas de destruição de mísseis e desarmamento estabelecidas por Gorbachev.Os novos tratados assinados em 1987 reduziram muito pouco os arsenais das duas potências, mas foram um primeiro passo significativo no sentido de permitir um entendimento maior.Na sequência do desenvolvimento das reformas implementadas por Gorbachev, rufram os governos da Europa Oriental, o Muro de Berlim foi derrubado, as duas Alemanhas se unificaram: em suma, o quadro ideológico existente na Europa Oriental e que justificava a existência da Guerra Fria, deixou de existir.Podemos, portanto, falar que a Guerra Fria terminou. A década de 90 se iniciou com modificações sensíveis, que fizeram com que o conflito Leste X Oeste começasse a se tomar algo do passado.Alguns problemas permanecem ainda sem solução, como por exemplo, o que fazer da OTAN. Ela não é mais necessária, visto que o Pacto de Varsóvia desintegrou-se. A permanência de tropas americanas na Alemanha também tor­nou-se desnecessária. Mas, sobretudo, o que tem preocupado sobremaneira é o destino do arsenal atómico da ex-URSS.
Com a desintegração da União Soviética, ocorre uma disputa entre as novas repúblicas para saber quem ficará de posse desse arsenal. Enquanto isso, correm notícias de que artefatos nucleares têm sido vendidos a diversos países, o que pode aumentar o risco de conflitos, particularmente na região do Oriente Médio, que já é um local bastante conturbado.

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