quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A QUESTÃO ALEMÃ: DO BLOQUEIO À QUEDA DO MURO

O bloqueio de Berlim

Stalin, por sua vez, reagiu à ofensiva. Em 1947 promoveu a criação do Kominform, organismo destinado a unificar a ação dos partidos comunistas e dos governos do Leste europeu sob sua direção, naturalmente. Dois anos depois procurou criar uma versão própria do Plano Marshall através do Comecon, conselho planejado para incrementar o auxílio econômico mútuo entre os países do bloco comunista. A consolidação de sua presença no Leste europeu dependia apenas da solução a ser encontrada para a Alemanha.Em 1948, após três anos de seguidos desentendimentos sobre o destino a ser dado ao pais, os soviéticos determinaram um bloqueio a Berlim, que ficava dentro de sua zona de ocupação, mas também estava dividida. Três quartos da antiga capital alemã - a parte ocidental - ainda estavam sob domínio das forças britânicas, francesas e norte-americanas. Com o bloqueio, Berlim Ocidental passou a receber apoio e suprimentos através de um corredor aéreo, uma linha de comunicação por avião montada especialmente para isso.A crise, que elevou perigosamente a temperatura das relações entre os Estados Unidos e a União Soviética, acabou resultando na divisão da Alemanha em dois países, em 1949: República Federal da Alemanha, sob controle norte-americano, e República Democrática Alemã, sob controle soviético. À semelhança do meridiano de Greenwich, que divide o globo terrestre e marca os fusos horários, a linha que agora dividia o mundo capitalista do mundo comunista passava por cima do antigo território alemão. E a divisão da Alemanha transformou-se no símbolo mais forte da impossibilidade de acordo entre Estados Unidos e União Soviética.O mundo saíra da Segunda Guerra Mundial dividido em dois. Restava apenas esperar que a crescente oposição entre os dois lados não resultasse em uma nova guerra. Os norte-americanos, de qualquer maneira, acreditavam que seu poderio bélico - conquistado através da posse isolada da bomba atômica - afastaria os soviéticos de um confronto direto. Pelo menos do ponto de vista militar, o Ocidente estava bem defendido.O ano de 1949, contudo, reservava uma última surpresa. No início de setembro, Harry Truman foi informado de que a União Soviética acabara de realizar com êxito um teste nuclear no deserto do Cazaquistão, próximo à cidade de Semipalatinsk. A novidade deixou o presidente perplexo: estava encerrado o monopólio nuclear norte-americano. Os soviéticos também dispunham da bomba atômica.A notícia fechava a equação da guerra fria. O mundo do segundo pós-guerra era dominado por duas superpotências rivais e absolutamente incompatíveis. Estava claro que um lado não se sentiria totalmente satisfeito a menos que obtivesse a rendição incondicional do outro. Mas ambos possuíam armas nucleares, o que significava que um confronto entre eles poderia levar o planeta a um desastre de proporções globais. Era nesse terreno literalmente explosivo que a humanidade deveria caminhar nas décadas seguintes.

A construção do muro

Já na madrugada de sábado para o domingo, dia 13 de agosto de 1961, surpresa na notícia de que o tráfego de trens entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental fora suspenso.O fato, porém, só ficou claro quando o dia amanheceu. A República Democrática Alemã (RDA) dera início à construção de um muro entre as duas partes de Berlim, cortando o acesso de 16 milhões de alemães ao Ocidente. "A fronteira em que nos encontramos, com a arma nas mãos, não é apenas uma fronteira entre um país e outro. É a fronteira entre o passado e o presente", era a interpretação ideológica do governo alemão-oriental.A RDA via-se com razão ameaçada em sua existência. Cerca de 2 mil fugas diárias tinham sido registradas, ou seja, 150 mil desde o começo do ano e mais de 2 milhões desde que fora criado o Estado socialista alemão. Um muro de 155 quilômetros de extensão que interrompia estradas e linhas férreas e separava famílias.Ainda dois meses antes, Walter Ulbricht, chefe de Estado e do partido, desmentira boatos de que o governo estaria planejando fechar a fronteira: "Não tenho conhecimento de um plano desses, já que os operários da construção estão ocupados levantando casas e toda a sua mão-de-obra é necessária para isso. Ninguém tenciona construir um muro".Nos bastidores, porém, corriam os preparativos, sob a coordenação de Erich Honecker e com a autorização da União Soviética. Guardas da fronteira e batalhões fiéis ao politburo encarregaram-se da tarefa. Honecker não tinha a menor dúvida: "Com a construção da muralha antifascista, a situação na Europa fica estabilizada e a paz, salvaguardada".As potências ocidentais protestaram, mas nada fizeram. Para os berlinenses de ambos os lados da fronteira, a brutalidade do muro passou a fazer parte do cotidiano. Apenas 11 dias após a construção, morreu pela primeira vez um alemão-oriental abatido a tiros durante tentativa de fuga.

A queda do muro de Berlim

Nenhum outro acontecimento marcaria tão emblemática e simbolicamente a virtual desintegração do antigo bloco comunista, ou teria tanta influência sobre os movimentos no Leste europeu, quanto o processo que levou à queda do muro de Berlim, em 1989. Construído em 1961 para separar os setores oriental e ocidental da cidade para isolar, na realidade, o setor comunista do setor não comunista -, o famoso muro havia se tornado o maior símbolo do controle soviético sobre os países do Leste europeu. Como que enclaustrados no setor comunista da cidade, centenas de pessoas tentaram, ao longo de quase três décadas, achar uma maneira de fugir para o setor ocidental. Os fugitivos procuravam superar as muitas barreiras constituídas pelo muro - que contava, entre outras coisas, com cercas eletrificadas, valetas antitanque e policiamento permanente. A maior parte deles acabou eletrocutada ou fuzilada.Em setembro de 1989, entretanto, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria, criando um novo roteiro de fuga da Alemanha Oriental. Milhares de alemães orientais passaram a sair de seu país em direção à Alemanha Ocidental, atravessando nesse caminho a Hungria e a Áustria. Além disso, como em outros países do Leste europeu, também na Alemanha Oriental uma onda crescente de protestos populares passou a ocorrer. Esgotado pelas manifestações e pela repercussão da emigração em massa, o governo do país finalmente determinou a derrubada do muro, em novembro de 1989. Verdadeiras multidões afluíram a Berlim e fizeram do acontecimento uma enorme festa, transmitida pela TV para todo o mundo. A queda da barreira preparava terreno para uma medida ainda mais radical, que viria pouco tempo depois - a reunificação alemã, sob a liderança da Alemanha Ocidental.

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